terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O BODO

Uma vez mais, houve convívio traduzido em festa com o cumprimento de uma tradição entre as gentes das nossas aldeias. Aqui existe uma tradição interessantíssima. Nesta freguesia distribui-se anualmente um bodo de remota origem, a que sucessivas gerações têm sabido, com orgulho, dar cumprimento. Esta corresponde a uma promessa feita ao Mártir São Sebastião para que intercedesse a favor das gentes da freguesia. A tradição antigamente consistia numa distribuição a cada pessoa presente, de um pequeno pão, uma mão cheia de castanhas piladas cozidas e um copo de vinho. Com o passar dos anos e o desaparecimento de muitos dos soutos, que eram abundantes nesta zona, hoje quase dizimados pelo flagelo dos incêndios, pelo abandono dos seus proprietários ou ainda pelas moléstias da natureza, passou então a ser dado uma quantidade de figos secos em substituição das castanhas piladas.
Como determina a tradição da oferenda do bodo, de carácter religioso e celebrado tradicionalmente no dia 20 de Janeiro, actualmente no domingo mais próximo, para facilitar aos conterrâneos que vivem longe. As expensas deste acto cabem por norma um ano a cada aldeia da freguesia. Este ano 2010, foi a vez da minha aldeia Carvalhal do Sapo custear e fazer a distribuição da oferenda, distribuição essa que é sempre realizada no adro anexo à igreja paroquial do Colmeal com celebração de missa e procissão. De salientar aqui um elogio à mordomia deste ano, que se destacou-se pela inovação ao colocar um fogão com uma frigideira no recinto da distribuição do bodo e um membro da paróquia ia dando cor e movimentos aos pedaços de carne de porco, que lentamente iam fritando, próprios para a confecção de torresmos, prato bem tradicional desta região. Conforme iam alourando, iam sendo distribuídos aos presentes, que em amena cavaqueira, e alegre convívio os iam degustando e regando com um branco ou tinto conforme o gosto. De louvar também foi a atitude que teve uma paroquiana que, (vejam bem!) teve a ousadia de oferecer uma grande cesta cheia de filhós (coscorão) para que não faltasse sobremesa. Bem-haja à sua gentil “ousadia”. Já agora deixo uma dica o próximo bodo é em Janeiro de 2011. Queremos continuar a celebrar as tradições (com algumas inovações), manter vivo o espírito de convívio e sempre com um convite aberto a quem queira connosco partilhar uns bons momentos de alegria!
Acácio Moreira

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

AS JANEIRAS



ASSIM ERAM AS JANEIRAS NA MINHA ALDEIA

Festejado o Natal e o nascimento de 2010, digerido o espumante, é tempo de fazer contas à vida, Levantar âncora e rumar para entrada no novo ano, com o cantar das janeiras.
As Janeiras são uma tradição muito antiga. Em muitas das nossas aldeias mantém-se bem viva esta tradição. Em especial nas Beiras e norte de Portugal vai passando de geração em geração, assim como o reportório musical que a esta quadra está associado.
Na minha aldeia forma-se um grupo de pessoas que tocando diversos instrumentos como a concertina, guitarra, ferrinhos, pandeireta, viola assim como outros inventados pelos próprios participantes, percorrem as ruas entoando cânticos associados às Janeiras.
Parando frente a cada porta de casa habitada. Convidando com os seus cantares o dono da casa a vir dar-lhe as Janeiras e desejando, assim um bom ano aos seus vizinhos. São normalmente convidados a entrar e são-lhes oferecidos algumas iguarias, como filhós, chouriço, morcela, toucinho, broa, castanhas, hortaliças e vinho, porque no final da caminhada à aldeia o conteúdo apurado durante o porta a porta, vai servir para a confecção de uma refeição tipo petiscada em que toda a gente pode participar. Continuando sempre com os seus cantares e danças tradicionais pela noite dentro.
É bom que se vão mantendo certas tradições. É uma forma de manter bem vivas as nossas aldeias, manter o convívio e a harmonia entre as pessoas que às vezes parece estar a morrer. De algum modo as Janeiras ou o cantar dos Reis permanece, não só na memória, mas também no quotidiano de muitos dos portugueses. È pena que cada vez há menos adeptos destas manifestações populares, o que também se deve à desertificação que se vai verificando cada vez mais nas nossas aldeias, em especial do nosso Portugal interior. Antigamente era também usual as crianças fazerem o seu pedido das Janeiras, Juntavam-se em grupos pequenos pela manhã bem cedo, com um saquito na mão e batiam de porta em porta esperando uma pequena dádiva como uns rebuçados, castanhas piladas, figos secos, uma fatia de bolo Rei, ou bolo escangalhado ou num grande dia de sorte uma tabele te de chocolate.
 


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